Secretaria Municipal de Educação oferece uma aula sobre PANC na Semana do Meio Ambiente
A Coordenadora de Educação Ambiental, Andrea Costa, da Secretaria Municipal de Educação, entrevista a Bióloga e professora Karla Beatriz Lopes Baldini, que dá uma verdadeira aula sobre Plantas Alimentícias “Não
convencionais”, as PANCs.
A bióloga mostra que a salada nos pratos brasileiros podem ir muito além do alface com tomate. E ressalta que há boas opções de PANCs na Feira Livre de Resende, assim como é possível plantar algumas espécies em casa.
01) O que significa a sigla PANC?
Karla Beatriz: Plantas ou partes alimentícias não convencionais. São os frutos, frutas, folhas, flores, rizomas, sementes e outras estruturas ou partes das plantas que podem ser consumidas pelos humanos. Que muitas vezes não consumimos no nosso dia-a-dia e muitas pessoas não conhecem e chamam de “mato”. O termo foi criado pelo professor Valdely Knupp em sua tese de doutorado em 2008. O termo já existe tem 12 anos.
Não é só folha como muitos imaginam a uma diversidade de espécies e partes que podem ser comidas.
02) Quantas espécies de plantas alimentícias são conhecidas no Brasil?
KB: Estão catalogadas 5 mil espécies de alimentos.
03) Quais são os cuidados que devemos ter ao consumir as PANC?
KB: Evitar ao máximo, numa situação do dia a dia, consumir plantas que você não tem certeza, sem o auxílio de alguém mais experiente que possa mostrar o que dá para comer, quais as cautelas de preparo, as restrições, as formas de preparo, se ferve, se cozinha.
Também não se devem coletar as plantas em beira de estrada e calçadas por que pode ter contaminação de produtos químicos, urina e fezes de animais.
Comer com moderação e variação, a diversificação daquilo que você vai consumir, afinal, temos milhares de espécies. Consumir as coisas mais regionais e sazonais possíveis. E moderação vale para aquelas em que pairam alguma dúvida.
04) As PANC têm um processo de adaptação fácil? Seria possível cultivar em Resende, por exemplo? E, elas poderiam estar inclusas dentro da fonte de renda da agricultura familiar?
KB: Sim, a maioria são muito rústicas, resilientes, resistentes, perenes, geram suas próprias sementes. Você planta uma vez e vai deixar como legado para o planeta, nos próximos anos, séculos, milênios e por aí afora. No estado do Rio de Janeiro, tem diferentes altitudes, solos, é possível cultivar diversas espécies de diferentes biomas do Brasil e do mundo. Alem disso, elas têm muita autonomia, então quanto mais adaptada a região, melhor. E, claro, elas são um prato cheio para a agroecologia e agricultura urbana. Porque você tem PANC adaptadas para diferentes regiões do planeta, para o ambiente ensolarado, assombreado, arenoso, salino, aquático… É preciso escolher aquela que é ideal para a sua região. Não dá para plantar vitória régia no Sul ou peixinho da horta na Amazônia.
05) Existe algum tipo de PANC que pode ser encontrada em qualquer lugar do Brasil?
KB: A maioria das PANC são cosmopolitas (ocorrem em todos os lugares do mundo), como os carurus (ou bredo). Só não ocorre na Antártida. Entretanto, existe algumas espécies restritas devido as condições de cada local. Como é o caso do pinhão que só ocorre do Rio Grande do Sul até a Serra da Mantiqueira.
06) Você acredita que ter esse conhecimento sobre a diversidade gastronômica brasileira aproxima as pessoas da cozinha?
KB: Os chefes de cozinha estão usando, há muitas pessoas interessadas no assunto e cozinhar é importante para manter a nossa saúde e qualidade de vida.
07) Deixe algumas dicas para aprender e incluir as PANC no dia-a-dia das pessoas
KB: Vamos fugir da monotonia alimentar. Com um repertório tão grande, a salada no Brasil se resume a tomate e alface o ano todo. Quando muito tem uma cebola ou cenoura cheia de agrotóxicos. É preciso ter diversidade no prato, cultivar plantas em casa mesmo em pequenos espaços. Valorizar o produtor local.
Em Resende, temos uma feira livre com certa diversidade de plantas convencionais e não convencionais. Valorizar as plantas e valorizar nossa cultura e saúde.
Existe o livro do professor Valdely que sempre recomendo a todos: “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil”, em coautoria com Harri Lorenzi (Editora Plantarum, 2014).